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Quem é o Pai do Mangue?

Foto do escritor: Lucas RigaudLucas Rigaud

Conheça a história da lenda que protege os manguezais no Nordeste brasileiro.



O mangue, também chamado de manguezal ou mangal, é uma vegetação que predomina a costa do território brasileiro. Caracterizado pela transição entre biomas terrestres e marinhos, o ecossistema é rico em sua biodiversidade, além de influenciar na vida de muitos moradores do Nordeste do país. Em Pernambuco, o mangue ocupa uma área de 270 km quadrados de extensão. Já o Estado do Maranhão possui 36% dos manguezais do país, seguido pelo Pará (28%) e Amapá (16%).


Infelizmente, com o passar do tempo, os manguezais vêm sofrendo com ações mal intencionadas dos seres humanos, resultando na degradação de sua flora e fauna, que também culminam na escassez de trabalhos e geração de renda em comunidades ribeirinhas, além de serem um risco para a preservação desse importante ecossistema. Quando ameaçada, a vegetação é protegida pelo mítico “Pai do Mangue”, uma figura folclórica muito famosa no Nordeste, que tem mais força no Estados de Pernambuco e Paraíba.


Mas, afinal, quem é o Pai do Mangue?

Ilustração do Pai do Mague. Imagem: crusta.com.br



A LENDA


Acredita-se que o Pai do Mangue seja um espírito que cuida dos mangues e rios, cuja história ficou conhecida entre pescadores e moradores dos arredores dos manguezais. As descrições da aparência da entidade variam conforme os lugares em que ela aparece. No geral, é relatado que o Pai do Mangue tem a fisionomia de um homem velho com vestes de pescador, que usa um chapelão que esconde seu rosto. Também é dito que o homem desconhecido fuma um cigarro que nunca se apaga e que ele surge no meio do mangue remando um pequeno barco de pesca, tal como o barqueiro Caronte na mitologia grega.


Com o objetivo de proteger as áreas de mangue, a entidade decreta regras que devem ser cumpridas por aqueles que invadem suas terras enlameadas. Caso algum “mandamento” do Pai do Mangue seja desrespeitado, o infrator pode sofrer diversas punições, como ataque de animais – que alguns, inclusive, acreditam ser o Pai do Mangue transfigurado -, pesca ruim ou perda dos peixes que já foram pescados, avarias na canoa e perda de orientação dentro do rio.


Para evitar a ira do Pai do Mangue, é necessário oferecer para ele um pouco de fumo de rolo, depositando o item no manguezal. Dessa forma, ele ficará satisfeito com a presença de estranhos.



VERSÕES DIFERENTES DA HISTÓRIA


Em Pernambuco, a origem desta entidade conta com duas versões. De acordo com pesquisadores, a história do Pai do Mangue teria se desenvolvido século XIX, logo após a abolição da escravatura, entre os negros que residiam na comunidade da Ilha do Maruim, em Olinda. De acordo com os habitantes da localidade, o “Pai do Mangue” era uma criatura medonha, que se assemelhava aos antigos senhores de engenho que maltratavam os escravos, alegando que a criatura possuía uma pele branca, além de ser cabeludo, dentuço e de pés grandes. Contam também que essa aterradora interpretação do Pai do Mangue roubava crianças que entravam em seus domínios.


A outra versão consta que o Pai do Mangue seja uma entidade invisível que comanda as vegetações ribeirinhas e defende os mangues. Alguns pescadores já relataram que, quando entram no seu território, escutam passadas na água rasa.


Já no Estado da Paraíba, acredita-se que antes da pesca, ou mesmo durante o processo, o pescador deve realizar alguns ritos para receber uma benção do Pai do Mangue, para que o seu trabalho seja mais farto e seguro. Uma das principais oferendas oferecidas é fumo, tal como também acontece no folclore pernambucano. Tanto na cultura pernambucana quanto na paraibana, é dito que o Pai do Mangue repudia atos de pecadores como proferir palavrões dentro da área de mangue, violência contra a natureza e desrespeito pela vida.


O Pai do Mangue. Imagem: Pai do Mangue Comics




O PAI DO MANGUE NO RECIFE


Na capital pernabucana, famílias que moram nas proximidades dos manguezais do bairro da Torre, na Zona Norte da cidade, já relataram avistamentos dessa enigmática figura.

Na margem do Rio Capibaribe, onde residem as testemunhas, há um ponto onde barqueiro azem a travessia para pessoas que precisam chegar no cais do bairro da Jaqueira. Durante a noite, esse local fica deserto e sombrio, cenário perfeito para as aparições do Pai do Mangue. De acordo com os relatos, a entidade caminha sobre a lama e solta gritos, assovios e risadas assustadoras.


Há quem acredite que o Pai do Mangue também já fez suas temerosas aparições na comunidade da Ilha de Deus, na Zona Sul do Recife. De acordo com a cultura local, a entidade aparece para pescadores que maltratam caranguejos e poluem o rio com garrafas pet.


Mais informações sobre os avistamentos do Pai do Mangue na Ilha de Deus podem ser conferidas do documentário ficcional “O Pai do Mangue: O Filme”, produção de 2012 realizada na Ação Comunitária Caranguejo Uçá.


Confira o filme, no canal de Deeay Novaro:


https://www.youtube.com/watch?v=Y8O_ZKtKo20&t=21s



Contado por: Lucas Rigaud


 
 
 

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